Music For Unaccompanied Drums is a solo project for drum set. The drum set as a part of a rhythm section is expected to groove, to generate rhythm. In a soloing situation, ascending energy and virtuosity are frequent goals to aim for. My proposal for this project is to question these roles and create a space for reflexion with the drumset.
Baterista radicado em Berlim e com um raro historial de aparições públicas no nosso país, o que deu um significado especial a esta sua vinda, Rui Faustino apresentou-se a solo com quatro longas peças meticulosamente estruturadas e em que recorreu a “loops” para ir sobrepondo camadas de materiais. Em cada bloco tocava sobre o que tinha tocado antes, conduzindo sucessivamente os planos rítmicos já estabelecidos para outros desfechos. Se os fraseados se iam repetindo ou introduzindo apenas pequeníssimas variações, as bases e os envolvimentos mudavam, cortando umas secções para as meter noutras e assim criando um muito curioso jogo entre o “mesmo” e o “diferente”, com referência indirecta no minimalismo norte-americano.
O que gravava era reproduzido nas colunas de som do PA para se misturar com o trabalho ao vivo de Faustino, mas se o recurso à electrónica serviu nos primeiros 20 minutos para a definição de níveis acústicos, com os sons da parafernália percussiva inalterados, o músico acabaria mais adiante por tirar outro proveito dos dispositivos de “delay” e “sampling” que tinha à disposição. Fê-lo da forma mais elementar, manipulando velocidades, mas para grande impacto electroacústico. Os resultados eram hipnóticos e de grande interesse, deixando a assistência suspensa de cada movimento.
O olhar ficava tão preso das situações quanto os ouvidos, para perceber como é que o que acontecia sonicamente tinha realização física. Em dado momento, Rui Faustino concentrou-se em utilizar o mesmo ataque de baquetas para fazer vibrar em simultâneo peles e pratos, com tal técnica estabelecendo mais uma obsessiva construção, plena de intrincações mas com um carácter ondulante. Ou seja, o factor performativo era fundamental, envolvendo toda uma coreografia. No fim, todos ficámos cientes de que um solo de bateria pode ser muito mais do que um solo de bateria.